A Peste
Negra foi uma pandemia que se proliferou na segunda metade do
século XIV, na Europa. Ao lado das revoltas camponesas, da Guerra dos Cem Anos e do declínio da cavalaria medieval, ela pode ser apontada como uma das causas
que levaram à Crise da Baixa Idade Média.
Sua
origem provém do continente asiático e sua chegada à Europa está relacionada às
caravanas de comércio que vinham da Ásia através do Mar Mediterrâneo e
aportavam nas cidades costeiras europeias, como Veneza e Gênova. Calcula-se que aproximadamente 25 milhões de pessoas, cerca de um terço da população europeia, tenha sido dizimada por conta da peste.
Confira abaixo um relato medieval sobre
essa pandemia que afetou profundamente a configuração do mundo Medieval
europeu:
No ano do Senhor, 1348, aconteceu sobre
quase toda a superfície do globo uma tal mortandade que raramente se tinha
conhecido semelhante. Os vivos, de fato, quase não conseguiam enterrar os
mortos, ou os evitavam com horror. Um terror tão grande tinha-se apoderado de
quase todo o mundo, de tal maneira que no momento que aparecia em alguém uma
úlcera ou um inchaço, geralmente embaixo da virilha ou da axila, a vítima
ficava privada de toda assistência, e mesmo abandonada por seus parentes. O pai
deixava o filho em seu leito, e o filho fazia o mesmo com o pai. Não é
surpreendente, pois, que quando numa casa alguém tinha sido tocado por este mal
e tinha morrido, acontecesse muito frequentemente, todos os outros moradores
terem sido contaminados e mortos da mesma maneira súbita; e ainda mais, coisa
horrorosa de se ouvir, os cachorros, os gatos, os galos, as galinhas e todos os
outros animais domésticos tiveram o mesmo destino. Aqueles que estavam sãos
fugiram apavorados de medo. E assim, muitos morreram por descuido, os quais
talvez teriam escapado de outro modo. Muitos ainda, que pegaram esta doença e
dos quais se acreditava que morreriam com certeza imediatamente sobre o chão,
foram transportados, sem a mínima discriminação até a fossa de inumação. E
assim, um grande número foi enterrado vivo. E a este mal acrescentou-se outro:
corria o boato de que certos criminosos, particularmente os judeus, jogavam
venenos nos rios e nas fontes, o que fazia aumentar tanto a peste acima
mencionada. É a razão pela qual tanto cristãos como judeus inocentes e pessoas
irrepreensíveis foram queimadas e assassinadas e outras vezes maltratadas em
suas pessoas, mesmo que tudo isso procedesse da constelação ou da vingança
divina. E esta peste se prolongou além do ano anteriormente dito, durante dois
anos seguidos, espalhando-se pelas regiões onde, primeiramente, não tinha
acontecido.
Fonte: Vitae Paparum
Avenionensium Clementis VI. Primavita. Mollat.M. (Ed.). aris, 1915-1922, p. 252.
Apud Calette, op. cit., p. 236-7
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